
Eu sei de muitas coisas daqui desta terra, de outras vidas, além dos céus e de todo entendimento. Mas sempre que uma coisa me parece certa, estabelecida e enraizada, sinto vontade de partir para buscar-me em outras que ainda não conheço.
E assim me queimo nas chamas de mim mesma e vejo cair por terra, estrela por estrela que pareciam tão fixas em suas flutuações.
E estas coisas que não conheço provocam-me um sentimento estanho de tinta colorida a pintar o jardim de minha vida. Cenas que se constroem como areias de uma duna que amanhã não estará lá.
Como agora sou tomada por um sentimento desconhecido de estar à beira do abismo e sentir vontade de pular, só para saborear o vento, sentir meu corpo se entregar na certeza que a queda poderá me causar ferimentos profundos.
Mas o momento que antecede a vontade de saltar me inebria a esquecer tudo o que construí, passo a passo, até aqui chegar.
Sou seduzida pelo cheiro do vento produzido por uma nuca que nem me lembrava mais existir, mas que de súbito apareceu, por obra do destino, a me causar um mal/bem inexplicável , daqueles que fazem a gente imaginar que somos pássaros.
Por cima da neblina densa que me impede de saber o tamanho da queda, eu acaricio as nuvens, passando cada molécula de água por todo meu corpo, deixando escorrer uma gota pelas minhas intimidades que me abre pétala por pétala.
E essa gota que me penetra, fecunda poemas esquecidos na biblioteca daquela que mantenho sob vigilância, mas que insiste por vezes em andar nua seduzindo as tropas, fazendo esquecer as guerras e convida apenas a celebrar em volta da fogueira, em uma dança profana e onírica, aquilo que eu ainda não sei.