quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Cegueira

Foto: Kalu Brum - Autoretrato

Pequena alma serena
veio a este planeta de cores
e viu o mundo como ninguém o pintou
só luzes sem fomas, pulsações sem corda
um tracejado único e bailante

A cegueira das formas terrestres
decretaram o problema
Chamaram-na de boba
lerda, burra
Ela era míope, aos olhos comuns

Colocou óculos, cortou a córnea
mas seu mundo nunca mudou
continuou com as luzes ululantes
as palavras que só brincam em seu dicionário
Aprendeu que cegueira
é a incapacidade humana
de ver o que os anjos sempre enxergaram

Ela cresceu mas sua alma menina
jaz em um coração puro
que desse plano aprendeu a perdoar
os homens de óculos e grandes cabeças
a dançar entre escombros e contruir palácios
a andar no escuro por se guiar
pela luz que nem óculos, nem bisturis
jamais hão de apagar.

Kalu, 25/09/2008

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Sobre Mim

Foto: Paula Lyn - www.paulalyn.com.br

Gosto de poetizar a existência e transformar o simples em um retrato único pintado com as cores divinas salpicadas com detalhes luminosos. Os sentimentos sutis clamam por esse retrato: basta oferecer o pincel para o coração. O quadro retrata um vôo até o infinito do céu, revelando o lugar dos pássaros encantados e das músicas celestiais.

Falar o que existe dentro do coração é uma forma de mapear os caminhos dos sentimentos e alçar vôo até sua raiz mais profunda. Assim como na lenda indiana que conta sobre um raro beija-flor que de tão puro, bebe apenas a água da chuva antes que esta toque o chão. Conhecer a origem dos sentimentos é como beber a água límpida que escorre do céu antes que ganhe o solo pragmático de nossa mente. A gota que escorre sem saber do destino, a queda perfeita na imensidão, o bailar das moléculas em um espaço profético....

Não preciso de poemas perfeitos, rimas ricas, brancas ou alexandrinas... Quero apenas sentir o bailar das almas livres, saltando e rodopiando nas caixinhas musicais da teia da vida.

Saboreio o amor delicado e sutil presente em cada respiração, em cada oração silenciosa. O amor que colore os dias, que faz rir a toa. Neste instante posso lembrar do brilho diferente dos olhos, do seu sorriso gostoso ou da textura dos cabelos entre meus dedos. O gosto doce, o brilho da pele, o calor dos poros sedentos e o som mântrico da respiração. Cada delicadeza transforma-se em uma ponte até lembranças felizes e me faz voar até você.

Poeticamente são as sutilezas que me fazem mais leve e nesse universo mágico de meu coração vou colorindo o quadro de meus sentimentos. Quero pular de mãos dadas com você nesse abismo. Tenho o pó do pirlipimpim. A noite chego voando por sua janela e chegaremos até a Terra do Nunca. Lá os sentimentos nunca envelhecem... Let´s fly!

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Resurgir da Loba

Foto: Paula Lyn - http://www.paulalyn.com.br/

Segui os rastros de lama
E as patas marcadas na terra
Caminhos para dentro de mim

Descobri-me fêmea selvagem
Escondida com vestimentas
Unhas pintadas, cabelo domado
A exibir a cauda que balança para lua

Uivo como uma loba
A lua cheia ascende minha essência
Eu me caço e me encontro indomável

Ela despertou e não mais me deixa dormir
Em meus sonhos mostra o que nunca
Posso deixar de ser
Me apaixono por seus olhos vivos
Sua boca sedenta
Pés descalços que bailam em volta da fogueira

Sou loba, louca e não quero mais roupas
Gosto de sentir o vento
A acariciar minha pele
E acender a paixão pela vida

Não quero mais sapatos
Que me afastam da mãe
Quero voltar para a casa
Uivar em teus braços
Para depois adormecer
Como um cãozinho de madame
No tapete com cheiro das entranhas
Esperando a próxima lua
para nascer cheia de mim