quinta-feira, 29 de outubro de 2009

O Fim de uma Amizade


Foto: Kalu Brum

Não importa se o deixei o dia todo sozinho ou se passei dias sem lhe fazer carinhos. Ele sempre está lá a me esperar, abanando o rabinho e buscando chamar atenção para receber carinho. Não liga se a ração que eu compro custa 30 ou 100 reais. Ele quer minha presença e atenção.

Na minha janela apareceu um passarinho. Logo depois um ninho. Quanto esforço do casal para construir um lar seguro para seus filhotes. Movidos pelo instinto, o que eles fazem é seguir a força da natureza.

E nós que brincamos de deuses, que decidimos quando uma criança deve nascer e prolongamos a vida até quando não é possível, nos sentimos sós. Amizades que acabam por brigas bobas embostalhadas pela merda que move o mundo. Bosta essa que faz pagar as contas da casa e a escola alternativa do meu filho.
A comunicação por assovios e latidos parece ser mais eficiente do que milhões de palavras para explicar o que não vai ser compreendido, porque do outro lado tem uma porta cheia de feridas que só quer jogar suas frustrações para o primeiro lixeiro desavisado.

Eu fui dotada do dom do esquecimento e acabo me lembrando apenas das coisas boas. E na minha dor, fico com o gosto amargo e uma dor de estômago que me mostram que por mais que a gente queira deixar para lá, é impossível, infelizmente eu não sou bicho. Ou sou?

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Surdos Marchadores



Foto: Kalu Brum


Nunca, em tempo algum, meus passos deixaram de incomodar os ignorantes. Já fui como eles que valorizavam as coisas do mundo em detrimento a força do instinto e do coração. E por tempos achei que calada conseguiria caminhar escondida carregando uma melancia de ideologias distintas na minha cabeça. Mas não consegui. Por mais que adore o bailar, minha paixão faz gritar para acordar as almas ignorantes.


Como podem achar normal cortar a barriga para nascer? Não amametnar? Receber uma vida em um ambinete inóspito e sem questionar se as multilações dos corpos de mãe e bebê são necessárias? Como podem querer beijar o bebe só depois de limpo, ter nojo de suas próprias entranhas? Eu não consigo achar normal que desrespeitem a criança dando-lhe um alimento do qual seu corpo não está preparado, treinando precocemente a ler e escrever, adestrando com palmadas e biscoitos.


Há em toda sociedade um desejo perene pela independência. Casais se separam em nome desta liberdade que não existe, mães trocam peito por mamadeira para se sentirem mais livres e descontam suas frsutrações fazendo compras para se fazerem presentes através de objetos.


As crianças parecem independentes e logo mostram que dependem da televisão (com o desespero nos dias sem luz), dos brinquedos caros, do eterno consumo. Desde cedo se treina a nova alma a valorizar o que está do lado de fora e as pessoas que podem ter mais coisas.


As pessoas deixam de acreditar em seus corpos, nas forças da natureza, na divindade presente em todas as coisas. E se desconectam do real e vivem em redes sociais imaginária, colecionando seguidores.


È nestas horas me lembro do conselho da minha irmã: "É só fazer o que todo mundo faz e não pensar". Como gostaria de ser assim, como gostaria de não pensar, de seguir os passos da boiada. Mas não posso mais. Eu acordei e não consigo mais dormir, me sinto gritando mantras em um mundo de surdos, que seguem a marcha das músicas de comerciais.


quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Velho baú



foto: Kalu Brum

Hoje abri um velho baú e encontrei roupas apertadas, fora de moda escritas em letras redondas e papel amarelado. Sonhos que já não cabem em minha livre alma, de desejos que não mais adornam minha velha alma.

Não sei onde me perdi para me encontrar mas agora me sinto tão dentro de mim que não encontro mais lugar, para ser o que não posso ser na itegridade do meu ser.

E eu só sei ser assim, sem horários ou manuais. Sem roupa social, de unhas feitas de pé no chão, cabelo na moda voando contra o vento da tarde. Não caibo no trânsito apertado de quem corre sem saber para onde ir. Me importa mesmo o balançar na rede, as estrelas que despontam enquanto canto para você me deixar e partir para terra de onde nunca desabitou totalmente.

Não tenho mais tinta na ponta dos neurônios. Me perdoem, escrevo com as víceras abertas, com sangue vivo que corre em minhas veias a uma velocidade frenética que faz a temperatura do planeta subir e derretar as calotas polares das hipocrisias.

Eu bem que tento sair deste mundo, mas parece que o universo conspira para que possa viver aquilo que me cabe, tão embotado de mim, que me faz vaidosa de ver que construo o mundo com meus sonhos e mudo de sonhos para sonhar ainda maior e melhor.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Lá do Céu



Foto: Kalu Brum

Um dia, lá do céu, me encantei com este planeta azul. Parecia ser brilhante e alegre com seus pássaros coloridos, folhas de verdes diversos, sorrisos e bailares em fogueiras.


Fiquei lá de cima admirando o nascer, crescer, envelhecer e partir de todas as coisas e como os homens se prendem a noção errônea do tempo sempre voltados com o faróis para trás ou para frente, sem olhar a paisagem de suas belas janelas.

E foi uma risada gostosa de criança que me enfeitiçou de tal forma que aqui despenquei, sem avisos ou manuais. Com olhos de anjo sempre vi o que parece não existir, vivi coisas tão intensas e ao mesmo tempo que consegui permanecer fora de muitas delas.

Aqui embaixo olhava a estrela brilhante de cão maior e pedia para voltar. É ruim sentir-se fora de lugar, solitária, diferente tanto tempo. Viver com anjos, ver as fadas a tocar os botões e fazer a primavera. Um mundo secreto, fantástico que por vezes pareceu ilusão de menina louca. E na minha mais desesperada prece, um dia estava preenchida.

Uma alma irmã veio lá de perto para me ensinar novamente o caminho das esrelas, a encantar-me com esta pérola azul que hoje habito. E deitada na relva, olhando as nuvens, de mãos dadas, fitando seu olhos brilhantes e ouvindo seu riso fácil, eu me lembrei do que me encantou. E em prece agradeci por aqui aterrizar e sem perceber estava, com suas asas, oltando para casa. Em 2012 a gente chega.