sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Dança das Palavras


Foto: Kalu Brum

Acho tão bela a dança das palavras. São como fios de uma teia de aranha, que capturaram, envolvem e transformam a presa. O poder das palavras é muito grande. Ela pode nos levar ao êxtase ou a tristeza mais aguda.

Pense em uma carta.

Lembre-se da inebriante sensação de ler uma declaração de amor. O calor no abdômen, o rubor na face. Mas se essa mesma carta, no final, conter uma despedida, a sensação se transformaria instantaneamente.

Palavras são como sementes mágicas que em cada solo, germinará de maneira própria.

Seja qual for a situação, a palavra, que forma a frase, que faz o texto, só se completa e realiza a comunicação quando encontra um espaço vazio. A mão encontra o buraco da luva, o seio da mãe encontra a boca faminta do bebê, a semente encontra o vazio da terra para germinar e as palavras precisam do vazio do ouvido e do coração para se realizarem.

O que percebo é que palavras vagam sem encontrar um espaço. Como disse Cássia "são palavras ao vento". E estas mesmas mágicas sementes capturam apenas instantes de realidade. Por isso o jornal de hoje embrulha o peixe de amanhã; as poesias de amantes são palavras que ferem. O que se eterniza são palavras despretenciosas, que voam como bolas de sabão, sabendo que seu destino colorido e leve é efêmero.

Permita-se ser um vazio pleno para que a dança das palavras se estabeleça em toda a sua plenitude e mergulhe em todas as sensações despertadas por essa teia, capaz de capturar, envolver e digerir o mundo. Saudações às palavras e sua realização no buraco do coração.

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