quinta-feira, 28 de maio de 2009

Pequena Flor

Foto: Kalu Brum

“...eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens também necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim o único no mundo. E eu serei para ti única...”
Pequeno Príncipe

Comecei a pensar nessa história sentada em um pequeno asteróide, perdida na escuridão. Batizo-o de PP 010105. Aqueles que comigo estavam saberão porque o chamo assim. Naquele pequeno mundinho que habitei por um tempo, experimentei a inexistência de luz que caracteriza o início e o fim de uma era. Naquela ausência pude então me recriar da forma que desejei. Transformei-me em uma pequena flor ao lado de dois pequenos príncipes. Em cada uma das minhas pétalas, cativaram-me e me fizeram única.

Em um momento em que poderíamos mergulhar na escuridão dos espinhos, sentíamos a doçura das pétalas. Entre melodias e silêncios profundos, tecíamos o laço que para sempre nos unirá, nessa lembrança ardente e doce, de estar perdido e ser encontrado.

Desculpe por tanta filosofia. Um sentimento de urgência cativa-me. Quero cultivar a semente desse momento para dela ver nascer uma flor única. Porque, entre tantos fatos que me passaram despercebido, escolho esse para cativar. E mesmo que existam tantos outros como esse, esse me será eterno.

Poderia contar a história da maneira que me ensinaram as pessoas grandes:

“No dia primeiro de janeiro de 2005, 2 rapazes de 26 e 17 anos, e uma garota de 25 anos, se perderam em uma trilha em ilha grande e foram resgatados à meia noite do segundo dia do ano. Todos passam bem, apesar de terem ficado mais de 12 horas sem alimento e apresentarem leves escoriações.”

Então jamais saberiam da boca da noite que de leve sugava as cores: do céu, da mata e até mesmo as nossas próprias cores e em segundo tudo se tornou um som que se propagava na imensidão e se confundia com nossos próprios pensamentos.

Se contasse essa história como gente grande, nunca haveriam de saber que as estrelas caíram do céu e ficaram ao alcance de nossas mãos - a noite virou o céu escuro e vaga-lumes transformaram-se em estrelas.

Aquela pedra salvadora era nosso planeta que estávamos dispostos a habitar até o sopro do dia. Mas no fundo do nosso coração queríamos ser resgatados da noite, que se parecia com um sonho bom misturado com pesadelo.

Junto com cada bombeiro que nos tirou da escuridão, estava o rosto daqueles que um dia nos resgataram dos piores sonhos, aqueles que acenderam a luz do nosso coração: a face da minha mãe, do meu pai, da minha irmã e até minha própria face de 20 anos atrás. Tudo o que queríamos, naquele momento, era o abraço heróico e mágico daqueles que nos fizeram. Únicos em suas essências porque assim aprendemos a cativá-los e reatamos os nossos próprios laços.

Se quiserem saber dos números, nunca saberão que as estrelas entraram todas elas em mim quando cheguei no meu porto-seguro e escutei a voz Daquela que me resgatou da escuridão da ilusão.

Quero eternizar esse momento como quem plastifica a figura de um livro para que o tempo não a desmanche. Posso até não me ater aos detalhes que todos querem saber. O que serão os dias, a hora, perto dessa essência que experimento com a alma renascida, pequena e eterna.

Se pensarem que por conta dessa história deixarei de mergulhar nas trilhas, enganam-se! Sinto-me mais forte e ao mesmo tempo suscetível. Meu amigo Rubem Alves diz que Deus é perigo, Deus é abismo. Pude experimentar isso nesse oceano, nunca na lagoa. Meu barco quer os perigos do mar, embora saiba que sou apenas um barquinho de papel.

Não me contento com lagoas ou piscinas... Quero partir para habitar meu próprio planeta e na imensidão descobrir que todas as coisas são iguais e especiais porque me cativam.

Agora sei que sou aquilo que cativo.

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